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Após superarem preconceito, transexuais falam sobre o Dia da Visibilidade Trans: ‘Precisamos avançar mais’

Após superarem preconceito, transexuais falam sobre o Dia da Visibilidade Trans: ‘Precisamos avançar mais’
Foto: Canaltech

Preconceito, prostituição e falta de oportunidades no mercado de trabalho são alguns dos desafios enfrentados por pessoas transgêneras, motivo pelo qual foi criado o Dia da Visibilidade Trans, comemorado nesta sexta-feira (29). O G1 conversou com três pessoas transexuais que moram na Baixada Santista, região de São Paulo, que relatam as dificuldade enfrentadas durante suas trajetórias.

Taiane Miyake, de 53 anos, começou 2021 assumindo a Coordenadoria da Diversidade de Santos, criada no início do ano. Militante pela causa LGBT, a mulher transexual conseguiu um cargo depois de anos de luta, superando a prostituição e trabalhando com projetos para conseguir se sustentar.

Taiane explica que sua transexualidade podia ser percebida desde cedo, aos 3 anos de idade, quando buscava brinquedos considerados femininos. Mais tarde, fez um curso técnico de contabilidade e trabalhava como chefe de um departamento, enquanto cursava faculdade de jornalismo. Na época, fazia shows montada com roupas femininas, e foi expulsa de casa aos 19 anos, quando o pai descobriu a atividade.

Taiane assumiu a Coordenadoria da Diversidade em Santos, SP — Foto: Arquivo Pessoal

Taiane assumiu a Coordenadoria da Diversidade em Santos, SP — Foto: Arquivo Pessoal

Prefeitura de Jatobá

Taiane perdeu o emprego, precisou interromper o curso e passou a morar nas ruas, onde descobriu a prostituição, que relata ter exercido por sobrevivência. Em 2012, passou em um processo seletivo para agente de prevenção de saúde, atuando com travestis e transexuais e ganhando uma ajuda de custo. Também contava com projetos paralelos para conseguir a renda necessária para sobreviver.

Após anos atuando na região, se tornou referência, ajudando a viabilizar o ambulatório de saúde integral para transexuais e travestis que funciona no Hospital Guilherme Álvaro. Também auxilia na retificação do nome de pessoas trans, e é a detentora da primeira parada LGBT de Santos. Para a profissional, que transformou sua trajetória em força, e hoje dá palestras em empresas, o Dia da Visibilidade é essencial para continuar a luta por direitos.

“A gente não tem muito o que comemorar. Tem que continuar visibilizando e ressaltando que existimos, que existe o nome social, que deve ser respeitado, e incentivando o ambulatório para pessoas trans. Precisamos avançar mais, e muito”, finaliza.

 

Libertação

 

Murilo atua como cabelereiro em São Vicente — Foto: Arquivo Pessoal

Murilo atua como cabelereiro em São Vicente — Foto: Arquivo Pessoal

O barbeiro Murilo Thomaz Santos, de 37 anos, morador de São Vicente, relata que a transição foi uma libertação. Homem trans, desde novo ele se sentia incomodado com o sexo de nascimento e não gostava de ser chamado por pronomes femininos. Só mais tarde, com mais de 30 anos, ele descobriu que existia a possibilidade de ele ser transexual, assistindo a uma entrevista. “Vi o relato de uma pessoa trans e percebei que algo para mim estava errado, e foi uma libertação”, relembra.

Casado há 17 anos, ele conta que sua esposa deu todo o suporte, e que a família foi compreensiva. Fazendo acompanhamento no Hospital Guilherme Álvaro, aos 33 anos ele descobriu mais sobre a transexualidade e conseguiu fazer a mastectomia, para retirada dos seios. Murilo diz que o Dia da Visibilidade Trans é essencial, para ajudar pessoas a se descobrirem.

“Se eu tivesse mais informação, talvez não tivesse ficado preso por 33 anos. Me deu a força que eu precisava. Agora, eu posso ir longe”, disse Murilo ao G1.

 

‘Não virei estatística’

Patrycia se descobriu trans na adolescência e fez a transição de sexo com 34 anos — Foto: Arquivo Pessoal

Patrycia se descobriu trans na adolescência e fez a transição de sexo com 34 anos — Foto: Arquivo Pessoal

Patrycia de Barros Nunes é uma mulher trans que comemora ter chegado aos 40 anos. Moradora de Santos, ela fez a transição para o sexo feminino aos 34, e diz que se sente privilegiada, já que, estaticamente, pessoas transgêneras vivem em média até os 35. Mesmo diante dos preconceitos, a cabelereira de formação diz que não liga para os comentários, e comemora a existência de uma data para celebrar as conquistas.

“Preconceito a gente sofre todos os dias, ao acordar a gente já sofre preconceito. Hoje, aos 40 anos, bato no peito e falo que não virei uma estatística. Sou privilegiada, guerreira, vencedora”, diz Patrycia.

 

Apesar de não se importar com os comentários, o preconceito fez parte da vida dela por um longo tempo, adiando a transição de gênero. Ela relata que, desde criança, tinha trejeitos femininos, e na adolescência descobriu os shows, onde se montava como mulher. Por medo da reação dos pais, fez a transição apenas aos 34 anos, e a mudança de nome aos 36.

Dia da Visibilidade Trans

O Dia da Visibilidade Trans foi criado em 2004, quando 27 pessoas trans foram ao Congresso Nacional, em Brasília, em uma campanha elaborada por lideranças do Movimento de Pessoas Trans, em parceria com o Programa Nacional de DST/Aids do Ministério da Saúde.

Fonte: G1

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